Lisboa, 1992. Maria Luísa Paiva Monteiro, de 49 anos, avança pelos corredores do Instituto de Medicina Legal ladeada por dois agentes da polícia judiciária. Enverga uma farda de general, procurando mostrar-se imperturbável. Na sala de perícias é-lhe pedido que se dispa, mas Maria Luísa recusa. Não admite passar por tamanha humilhação.
Recuamos até 1952. Maria Luísa é uma menina madeirense de 9 anos que se diverte a mergulhar na praia com os rapazes. Desafia-os para uma corrida, da qual sai vencedora, o que não é bem aceite por todos os amigos. Afinal de contas, Maria Luísa é uma rapariga. Quando regressa a casa, de cabelo molhado e com cheiro a maresia, Maria Luísa é severamente repreendida pela mãe, Celeste, que não a quer misturada com os rapazes. Mostra-se desiludida com o seu comportamento e compara-a a Otávio, o filho mais novo que falecera anos antes, por quem Celeste tinha uma verdadeira adoração.
Aos 21 anos Maria Luísa é obrigada a ir com os pais a uma festa dada por Henrique Frutuoso no seu palacete. Chama a atenção do anfitrião pelo seu ar diferente, e é convidada a dançar com ele, o que os pais veem com bons olhos. Henrique acaba por levar Maria Luísa até à biblioteca, para a impressionar, e lá, tenta violá-la. Maria Luísa consegue fugir e, uma vez em casa, explica à mãe o que aconteceu. Celeste, no entanto, não acredita na filha, deixando-a totalmente sem chão.
Maria Luísa atira-se ao mar, simulando o seu suicídio. Já a salvo, veste as roupas do pai e corta o cabelo para ficar com aparência de homem. Enquanto os pais a julgam morta, Maria Luísa assume uma nova identidade com a qual foge da ilha.
Em 1992, essa identidade é revelada: Maria Luísa diz à polícia que o seu nome é Otávio. No dia em que fugiu do Funchal, assumiu a identidade do falecido irmão.