Personagens

Ana Padrão

LÉ VASCONCELOS

Sol de Inverno

Aos 54 anos é uma mulher emancipada e livre, herdeira de uma fortuna tão antiga quanto esgotada. Resta-lhe um velho palacete decrépito como herança, cheio de hipotecas e dívidas, com um terreno adjacente. A sua família foi outrora rica e poderosa – tendo feito fortuna com o volfrâmio – e ela é a última representante do que resta desse passado longínquo.

 

Mulher à frente do seu tempo (foi hippie quando isso era, em Portugal, o mesmo que ser marciana), ao ponto de ter abandonado a família e de ter cometido todos os erros que a juventude permite e mais alguns. Lé transformou o seu palacete de família num "albergue residencial", alugando quartos, ambicionando ter dinheiro para fazer obras. O edifício, junto à praia, está em decadência, com sinais visíveis de degradação.

 

Mesmo assim, ainda é possível identificá-lo como um espaço de charme e de bom gosto que são apanágios de Lé. É uma ecologista militante, apostada em fazer a diferença e em ajudar o planeta a sobreviver à tortura que lhe vem impondo o Homem. É, em consequência, uma feroz defensora de um alternativo sistema económico e financeiro, mais humano, responsável e menos lesivo do ambiente.

 

Porém, o seu sentido altruísta e solidário faz com que tenha o impulso de contribuir para o bem geral, tentando promover e divulgar junto de pessoas próximas soluções e condições para que estes possam também enfrentar e resolver as questões que colocam os difíceis tempos de crise que atravessamos. Acredita firmemente que o capitalismo faliu e que é preciso encontrar um novo sistema económico recorrendo a trocas diretas de produtos ou serviços.

 

A filha está sempre a tentar incutir algum juízo na cabeça da mãe, já que Lé gere o palacete sem quaisquer preocupações com as contas ou o lucro.