Está em todo o lado a baixo custo. A Internet trouxe inúmeras vantagens, mas também riscos, muitos estão à sua frente mas não os vê. Mikko Hypponen foi o nome escolhido para a conferência NOS* Security Talk e deixou um aviso a todos naquela sala: “Todos vocês estão na watchlist do governo inglês e americano”.
Dados pessoais e privacidade, compras online, malware e Rui Pinto, o hacker que roubou os segredos do Benfica. Expressões e notícias que já lemos na Internet, mas que ainda assim parece distantes. Mas na verdade, nada o é quando falamos do mundo online.
As crianças portuguesas
Os dados apresentados na conferência são impressionantes. Aos quatro anos de idade, praticamente 90% das crianças portuguesas tem acesso a computadores e tablets. Entre os seis e os nove anos, 76% acedem à Internet todos os dias. Aos 11, têm o seu primeiro smartphone e quase metade dos pais estão preocupado scom o tempo que os filhos passam na Internet.
“Somos a única espécie que vive duas em lugares diferentes, em duas dimensões. O mundo real e o online”, diz Hypponen da F-Scure. Segundo o especialista finlandês, já é mais provável ser vítima de um crime online do que no mundo real.
“Estamos tão perto do criminoso como qualquer outra pessoa no mundo”
“Se alguém vos rouba o carro em Lisboa, o criminoso será provavelmente dessa zona. Não temos que nos preocupar com alguém da Nova Zelândia. O criminoso não voará da Oceânia para Portugal para roubar um carro”, exemplifica. Mas na Internet, as fronteiras diluem-se e não há geografia. “Como vítimas, estamos tão perto do criminoso como qualquer outra pessoa no mundo”, resume.
Trabalha com o lado mais negro da Internet e, ainda assim, reconhece-lhe mais vantagens. Crê que ela será o grande legado da humanidade. Rastreou os autores do primeiro vírus de computador e lida frequentemente com crime online e organizado.
Milionários do cibercrime e queda de um velho ditado
Acumulam fortunas na dark web e vendem os nossos cartões de crédito roubados à maior licitação. Leiloam ainda acessos a computadores e dados de multibanco a outros criminosos. Tudo de forma anónima. Evaldas Rimasauskas, da Lituânia, roubou dezenas de milhões de dólares a gigantes como a Google e o Facebook. Bastou-lhe um email e alguns telefonemas.
“Tempo é dinheiro” já todos o ouvimos. Mas até a sabedoria tem o seu tempo. Agora, “informação é dinheiro”, assume Mikko. Roubar informações de empresas e vender esses dados é o objetivo. A chantagem a empresas existe e muitas, garante, acabam mesmo por ceder e pagar. Porquê? Não têm backup. “Os regastes ainda existem porque as empresas ainda não o fazem. Ou pensam que o têm, mas eles não estão completos ou são demasiado difíceis de aceder ou lentos de restaurar. Muitas empresas nem o testaram”, revela.
E como se pagam estes resgates? Com bitcoins. Onde não se segue o rasto da quantia. “Os criminosos online adoram as bitcoins, tal como os do mundo real adoram o dinheiro real”, garante. Afirma conhecer empresas que já têm estas moeda virtuais ao seu dispor no caso de serem confrontados com um roubo e ameaça.
“E se um hacker entrar no vosso frigorífico?”
Tudo à nossa volta é um computador, tudo são máquinas. E como se ensina uma máquina? Com informação. Mikko Hypponen explica que já analisou botnets (‘bot’ é um malware que permite ao hacker o controlo remoto de um computador, sendo que ‘botnets’ são uma rede autónoma de ‘bot’) que não infetaram servidores ou portáteis, mas impressoras, máquinas de café e câmaras de vigilância em empresas.
Mas e na sua casa?“E se um hacker entrar no vosso frigorífico?”, pergunta para a surpresa da audiência. “O hacker não está interessado, de facto, no frigorífico, mas sim na network por detrás do objeto”. É o seu elemento mais fraco da rede. Não estão interessados na carne ou no leite, conta. O frigorífico é o prémio porque é a conexão entre a Internet pública e a rede interna, a doméstica.
As tostadeiras e o futuro: “Sei o que estão a pensar: ‘eu não gosto disto’ ”
Iot, a Internet das Coisas, não é mais do que conexão digital dos objetos do quotidiano à Internet, ou seja, utensílios que captam e transmitem dados. E isto é o futuro do agora, que está mesmo a começar, e que acarreta muitos riscos.
Mikko assegura que tudo o que tem eletricidade estará na Internet e, em teoria, se está na Internet, é vulnerável. “Pensem nas tostadeiras. Pensem nas empresas que as produzem e que vão a todas estas conferências. Elas ouvem que isto é o futuro”, comenta. Colocando chips Iot nas tostadeiras saberão onde elas estão, quando são usadas, onde vendem mais, canalizando a publicidade para onde é efetivamente precisa.
“As empresas ainda não o conseguem fazer porque ainda é muito caro e aumentaria o seu preço, prejudicando as suas vendas, mas a tecnologia evolui”, afirma. E quando tal acontece, ela torna-se bem mais barata… Assim, as tostadeiras estarão na Internet não pela necessidade do consumidor, mas de quem a produz.
“Sei o que estão a pensar: ‘eu não gosto disto’. Não quero que recolham informações minhas’ “, explana. Não teremos escolha. As empresas obterão essa informações através de sistemas que não dependem dos consumidores como o wi-fi. “E quando acontecer, nem vos vão dizer”, assegura.
A Inteligência Artificial como Santo Graal, Putin e Snowden
A guerra nasceu em terra, atreveu-se a ir para o mar, saltou para o ar, sonhou com o espaço e atinge agora o ciberespaço. Hypponen declarou que há uma corrida em curso pela Inteligência Artificial e, que daqui a muito tempo, teremos computadores a simular cérebros humano. Recordou Vladimir Putin, numa conferência na Rússia, em setembro de 2017: “Quem se tornar líder da Inteligência Artificial, será líder do mundo”.
“Segundo os dados de Snowden, eu sei que estou na watchlist do serviço inglês e americano dos governos. Os serviços de inteligência afirmaram que iriam localizar quem está nessa lista,mas também as suas conexões. A má notícia é que vocês estão neste momento na sala comigo. O dispositivo que carregam no vosso bolso está a dizer que estão a interagir comigo e isso significa que estão agora nessa lista, desculpem“, disse no final da conferência.
*Em parceria com a F-Secure, a NOS lançou o NOS Safe Net. O serviço que combina proteção antivírus e controlo parental numa plataforma, garantindo a proteção de até 10 equipamentos de toda a família, sejam tablets, smartphones, ou computadores. O foco da operadora é garantir privacidade dos utilizadores, hábitos saudáveis de consumo dos mais novos e navegação segura.