O turno de Rúben Silva e Pedro Pinheiro, bombeiros de Carnaxide de 1ª e 2ª, respetivamente, estava a ser “horrível”, mas acabou “da melhor maneira” com o nascimento do pequeno Rafael, com 2,945 quilos. Um momento que chamou a atenção dos internautas e da SIC Mulher, que falou com os envolvidos.
Para lhe explicarmos o motivo pelo qual esta história é tão cativante teremos que recuar ao dia 10 de janeiro. Com 40 semanas e três dias de gestação, Nadia Gomes, de 30 anos, foi a uma consulta no Hospital de São Francisco Xavier, em Lisboa. A médica fez o exame de toque e aconselhou-a a andar.
“Fui ao Centro Comercial Alegro, fiz as minhas compras, cheguei a casa [em Portela de Carnaxide] e fiz as minhas coisas”, conta Nadia, que já é mãe de Henrique, de sete anos. À noite, a ex-vigilante começou a sentir dores nas costas e a primeira contração aconteceu às 3 horas. “A dor ia e vinha, andei de um lado para o outro dentro da minha casa, fui para a casa de banho“.
As contrações começaram a ser cada vez mais intensas, mas Nadia pediu ao marido, José Ribeiro, que não chamasse a ambulância pois “ainda não estava na hora”. Duas horas passaram, “as águas ainda não tinham rebentado”, e decidiram pedir assistência.
Entre o alerta e o nascimento do bebé: 11 minutos
O procedimento foi o normal para este tipo de situações. “Recebemos um alerta via Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) para uma grávida de 40 semanas com contrações de cinco em cinco minutos. Dirigimo-nos ao local e deparámo-nos com uma senhora que já estava em trabalho de parto”, explica Rúben Silva, de 34 anos. Houve uma tentativa de pedir apoio diferenciado, mas sem sucesso.
“O alerta foi dado às 6h45 e o bebé nasceu às 6h56. Foram onze minutos“, acrescenta Pedro Pinheiro, de 38 anos. Nadia descreve o momento: “A cabeça do meu filho já tinha saído. Fiz a segunda força e o Rafael saiu. Como eu estava na sanita, sentada, o Pedro segurou no meu filho e ele nasceu.”
Rúben, que é bombeiro há 18 anos, esclarece: “Normalmente somos apoiados por uma viatura médica, temos um enfermeiro, um médico. Há sempre uma salvaguarda e que nos dá outras vantagens caso algo corra menos bem. Ali estávamos só nós.”
Nadia também contou com o apoio da tia, Evaldina Mendes de Pina, que vive em Londres e tirou férias para acompanhar o nascimento do sobrinho-neto. “Tinha de ser rápido para o bebé não apanhar infeções. O Pedro cortou o cordão umbilical. Ia ser o pai, mas na altura não deu porque estava muito nervoso”, relembra Evaldina.
“Eu servi de assistente. Segurei no bebé para puderem levantar e levar a minha sobrinha para a cama. Cobriram-na para ficar quentinha e ela deu de mamar. O INEM só chegou mais tarde, não viram nada. O parto já estava feito. Acho que eles [Rúben Silva e Pedro Pinheiro] mereciam uma medalha”, acrescenta.
“Da maneira como o Pedro pegou no bebé parecia que ele já tinha feito isto há muitos anos. Foi muito calmo. Foram impecáveis, não tenho palavras“, sublinha ainda. Esta não é a primeira vez que estes dois bombeiros prestam auxílio neste tipo de ocorrência: aconteceu a ambos “há mais de 15 anos”.
“Fartei-me de chorar agarrado ao pai“
Para Rúben, o nascimento de Rafael foi particularmente emotivo. “Fartei-me de chorar lá, agarrado ao pai. Posso dizer que foi um momento de família“, confessa. “Tínhamos tido um turno horrível. Quando estávamos a sair do hospital [após o transporte de Nadia e do bebé] disse ao Pedro ‘acabámos o turno da melhor maneira'”, conta. “Foi uma sensação inexplicável“, acrescenta Pedro, que é bombeiro há 24 anos.
Esta é uma história com um final feliz, mas que poderia não ter corrido bem pois aconteceu fora do ambiente hospitalar. “Não temos as ferramentas adequadas caso alguma coisa não esteja nos conformes“, alerta ainda Rúben.
Nadia Gomes encontra-se neste momento a recuperar em casa, mas “assim que estiver bem” garante que vai visitar os bombeiros para “agradecer a toda a equipa”. Como diz o ditado: tudo está bem quando acaba bem.