Saúde e bem-estar

Estamos todos em burnout emocional? Saiba mais!

Segundo a psicóloga entre tragédias globais e distrações banais, vivemos exaustos e anestesiados. O desafio é não sucumbir ao colapso, mas reencontrar nas pequenas escolhas a força para semear esperança

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SIC Mulher

Vivemos tempos em que parece que tudo está em colapso: sistemas económicos, estruturas sociais, laços familiares e até a nossa própria capacidade de acreditar no futuro.

As imagens de guerra, violência e desigualdade chegam-nos a cada instante, intercaladas no mesmo ecrã com vídeos de humor, gatinhos e memes. Esta alternância constante, entre o trágico e o banal, cria em nós uma mistura estranha de anestesia e exaustão. O resultado é uma saturação emocional coletiva: já não reagimos como antes, sentimos menos compaixão e, ao mesmo tempo, estamos mais cansados do que nunca.

Na prática clínica, vemos cada vez mais pessoas, de todas as idades, a apresentar sintomas de burnout emocional. Crianças e jovens denunciam o estado do mundo através da sua ansiedade e depressão. Adultos sentem-se pressionados, divididos entre responder às exigências diárias e lidar com a sensação de que carregam o peso de um futuro incerto.

E para muitas mulheres, o desafio é ainda maior. Enquanto o mundo parece colapsar, continuam a garantir o cuidado do dia a dia: filhos, trabalho, casa, pais envelhecidos. Tornam-se o centro silencioso de equilíbrio numa realidade que constantemente exige mais delas. É como se o fardo de manter a normalidade estivesse sempre sobre os seus ombros mesmo quando, por dentro, também sentem medo, exaustão e incerteza.

Perante este cenário, muitos refugiam-se em distrações ou em mecanismos de dissociação. Outros agarram-se a ideologias radicais ou a narrativas simplistas, procurando respostas rápidas para problemas complexos. Mas a questão central continua a ser: como não colapsar psicologicamente quando o mundo parece em colapso?

A resposta não está em negar a realidade, mas em recuperar as nossas âncoras internas. Precisamos de ter claros os valores que nos orientam. Não é idealismo acreditar que o tecido da humanidade se mantém saudável pelas relações que cultivamos. A compaixão, a amizade, a solidariedade, o perdão e o altruísmo continuam a ser antídotos gratuitos contra o desespero.

É verdade que as ondas de ódio são contagiantes. Mas também o são o amor e a alegria. Quando este mundo antigo cair, e muitos sinais apontam nesse sentido, será a bondade que o reconstruirá.

O desafio, como adultos, não é esperar que as próximas gerações façam tudo por nós. Pelo contrário, precisamos de assumir responsabilidade e ser muito claros quanto ao que toleramos, e ao que não toleramos, no mundo em que vivemos.

Essa clareza traduz-se no quotidiano: na forma como educamos os nossos filhos, no modo como cultivamos amizades, no ambiente que criamos no trabalho, e nas pequenas escolhas que fazemos. Grão a grão enche a galinha o papo. Pequenos gestos de bondade têm um alcance que muitas vezes não conseguimos medir.

Vivemos numa era que nos quer convencer de que o bem e o mal são apenas pontos de vista. Mas é precisamente nos valores, nos limites que traçamos e nas escolhas que fazemos, que reside a nossa força para enfrentar o colapso sem sucumbir a ele.

No fundo, somos todos influencers. E cada um de nós, todos os dias, tem o poder de escolher entre alimentar o medo… ou semear a esperança.


Ana Isabel Ferreira, psicóloga

Nota importante: Este artigo é uma reflexão baseada na observação pública de comportamentos e discursos, com fins informativos e de consciencialização. Não se trata de um diagnóstico psicológico, nem pretende substituir uma avaliação clínica individualizada. A análise apresentada refere-se a traços de comportamento e não deve ser entendida como uma rotulagem da identidade de qualquer pessoa. Todos os seres humanos são complexos e merecem ser vistos na sua totalidade.

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