"Libertar-se é uma coisa. Reconstruir-se é outra."
Viver com alguém com traços narcisistas pode ser silenciosamente destrutivo. No início, quase sempre parece o oposto:
- Muito carinho, atenção exagerada, entrega rápida.
- Elogios, intensidade, planos de futuro logo nos primeiros encontros.
- Mas essa fase é calculada. O objetivo é criar vínculo, dependência, confusão.
É o chamado Love Bombing,um bombardeamento de amor que, depois, se transforma em desaprovação, críticas, frieza.
Ao longo do tempo, a vítima:
- Perde a autoestima;
- Sente-se culpada sem razão clara;
- Desenvolve ansiedade, insónias, até sintomas físicos.
- Sente-se emocionalmente exausta e sem acesso à própria clareza mental.
Este tipo de relação desorganiza a psique porque não se baseia em troca, mas em poder. É um jogo onde o narcisista quer vencer, e nunca resolver. No caso observado publicamente, assistiu-se a episódios frequentes de:
- Invalidar emoções (dizer à outra pessoa como ela se sentia, mesmo quando ela já o tinha dito);
- Responder com sarcasmo e frieza a momentos simbólicos (como o dia do casamento);
- Fazer piadas que diminuem a parceira, em vez de a valorizar.
Isto acontece com frequência nas relações com narcisistas:
- O que deveria ser ternura, é sabotado.
- O que deveria ser escuta, é interrompido.
- O que deveria ser cuidado, é disputado.
Muitas pessoas só percebem o que viveram depois da relação acabar e algumas, apenas depois de terem filhos, quando o narcisista começa a mostrar ciúmes da criança e disputa o centro do afeto da família.
Numa relação saudável, as emoções são ouvidas. Numa relação com um narcisista, as emoções são ignoradas, distorcidas ou usadas como armas. O processo terapêutico é essencial para sair deste lugar. Não só para entender o que aconteceu, mas para recuperar a ligação com quem tu és — sem medo, sem culpa, sem silenciamento. Reconstruir leva tempo. Mas é possível. E vale a pena.
Ana Isabel Ferreira, psicóloga
Nota importante: Este artigo é uma reflexão baseada na observação pública de comportamentos e discursos, com fins informativos e de consciencialização. Não se trata de um diagnóstico psicológico, nem pretende substituir uma avaliação clínica individualizada. A análise apresentada refere-se a traços de comportamento e não deve ser entendida como uma rotulagem da identidade de qualquer pessoa. Todos os seres humanos são complexos e merecem ser vistos na sua totalidade.